domingo, 15 de novembro de 2009

A evolução com ph









Tenho um sobrinho de 14 aninhos. Ele mora com meus pais, de mais de 65 anos, com a mãe, de mais de 40, com uma tia de 55, e com um primo de 50. Embora seja o único que pode ser colocado fora do que o IBGE chama de população economicamente ativa, Raphael (isso mesmo, com ph, porque os nomes também evoluem e se tornam 2.0), pode-se dizer, tem um grande poder de barganha. Quando alguém precisa mexer na Tv digital, só o pirralho de espinhas esquisitas consegue entender as funções exatas de cada botão do controle remoto. Depois que a faxineira limpa o computador e (sem querer) tira os fios dos seus devidos buraquinhos, só ele consegue colocar tudo nos eixos.


No mundo digital, ele é o soberano num apartamento de dois quartos comprado pela Caixa Econômica Federal. É ele quem controla os fios e os botões, mas, mais do que isso, é ele quem chama a família para participar do orkut, do gmail, que coloca o vídeo da amália rodrigues para a querida avó ouvir fado no youtube (sim, ela é portuguesa, com certeza), é ele quem baixa as fotos do celular no computador e deste passa para a TV, numa operação que faz meu pai pensar naqueles filmes do 007. Em troca, Raphael recebe muitas idas ao Mc'Donalds, muitas permissões para sair com os amiguinhos, muitas caronas para festinhas onde imperam os hormônios juvenis. Pode-se dizer que o mundo digital é o seu passaporte para o mundo real.





Não é difícil concluir que quem entra no quarto de um adolescente de classe média, hoje, pode tomar um choque. É só reparar: o jovem (ou a jovem) mostra uma coordenação elogiável para conseguir ouvir rádio, ver televisão, mexer no computador, falar com os amigos por meio de um site de mensagens rápidas... Fazer tudo ao mesmo tempo agora. Enfim, ele está conectado a tudo e a todos. É toda uma nova cultura que ganha cada vez mais força e a qual foi absorvida (ou absorve) pelas gerações atuais e será pelas futuras. É algo irremediável.

É essa geração de jovens também que melhor sabe se conduzir dentro do ambiente web 2.0. A geração que escolhe o que quer ver, ler e ouvir, e quando; que reduz as distâncias; e que, na minha opinião, sobretudo quer modificar a forma acadêmica tradicional professor-sabe-tudo/ aluno-obediente-que-paga para-aprender. Trata-se de uma geração que está construindo o conteúdo, trocando informações e opinando mais sobre essas informações. Enfim, construindo um cenário em que a informação é trocada gratuitamente, como no velho escambo entre o pau-brasil e o espelhinho para índio ver o seu reflexo. Com a diferença que, na internet, essa troca não impõe uma relação de superioridade, todos são civilizados (ou não). A relação é de 1 para 1. Basta ter conhecimento. E uma senha.

No jornal, ambiente onde trabalho, essa mudança de comportamento trazida pela web 2.0 já é devastadora. Lembro que, até bem pouco tempo, cheguei à redação, e a tela do computador era preta com caracteres verdes. Isso foi ontem. A internet ainda estava engatinhando. Os repórteres ainda freqüentavam em muito os departamentos de pesquisa, porque não conheciam as possibilidades interplanetárias e infinitas do mundo virtutal. Em casa, comprávamos (alguns pirateavam) programas do word, do excel; programas com dicionários e com enciclopédias. A internet era uma forma de ver site de mulher pelada ou para se comprar produtos, embora todo cuidado fosse pouco com os hackers. Era a web 1.0, um dígito ponto zero a menos. E, como todos sabem, o mundo caminha um dígito ponto zero para a frente. É a evolução. Aí chegou o google; os sites dos jornais surgiram e, num segundo momento, passaram a interagir com os leitores virtuais; os chats tornaram-se uma febre, as pessoas passaram a comentar sobre a música que acabaram de "baixar"; veio o orkut, um dos grandes responsáveis pela popularização da internet no Brasil; e o youtube. Ou seja, estávamos irremediavelmente conectados a um outro mundo - a web 2.0, um conceito novo, com todas as deficiências que um conceito traz em si.



O que mudou, prioritariamente, da geração web 1.0 para a web 2.0 é a relação do usuário com a internet, em particular, e com o computador, em geral. É um conceito novo que se espandiu para os celulares e para o resto de nossas vidas. Basicamente, passamos a trocar informações a cada minuto, a customizar as informações que queremos receber e enviar, a individualizar nossos conhecimentos e - na medida em que os tornamos públicos ou os colocamos numa cadeia de informações - a torná-los verossímeis ou não.

Acredito que, no futuro, quem vai ditar se isso ou aquilo tem qualidade é o usuário... on line, full time, on time. Retomando à mudança que essa nova mentalidade vem exercendo no jornal, meu ambiente de trabalho, o repórter vem mudando cada vez mais suas habilidades para se adaptar, tornando-se multimídia, tentando conhecer novas ferramentas; o jornal vem buscando obsessivamente transcrever o conteúdo do papel para a internet, buscando se adaptar a essa interatividade com o leitor...Enfim, na verdade, o processo que vem ocorrendo pode ser comparado, guardadas as devidas proporções, àquele que foi vislumbrado e defendido, anos atrás, pelo português da padaria um pouco mais esperto, que colocava o cartaz na parede da loja onde se lia: "o cliente sempre tem razão". Cada vez mais é esse cliente, o receptor da informação, que vai avaliar, assimilar e passar adiante ou te deletar da "galera" dele.


(observação: como eu já tinha feito este módulo da vez anterior, fiz algumas mudanças no texto publicado anteriormente)

2 comentários:

  1. Oi Antero,
    Teu texto está muito bom, principalmente porque você o personalizou. Os blogs são ótimos para personalizar um texto porque são, geralmente, o produto de uma só cabeça e servem para você estabelecer uma espécie de conversa com quem o lê. É um sistema mais descontraido de narrativa e é bom que seja assim porque cria uma diferença em relação ao texto jornalistico classico. A diversidade de estilos é importante e deve ser preservada, sem a preocupação de um modelo substituir ou eliminar o outro. A piramide invertida do jornal tem a sua utilidade dentro das caracteristicas de um jornal. Num blog ela pode ser substituida por um estilo contador de historias.
    Minha recomendação é que você reduza o tamanho dos parágrafos para tornar o visual da página menos denso. A separação dos parágrafos por espaço duplo está perfeita e o uso de uma foto aumenta o envolvimento do leitor com a tua história. Quanto mais ilustrações usarmos em nossos textos online, mais intensa fica a carga de informações levadas ao leitor Mas as fotos precisam "conversar" com o texto. Isto a gente vai ver em detalhes no modulo 3.
    Um abraço
    Castilho

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  2. Oi Antero, adorei a personagem do seu artigo, deu um toque especial ao assunto e deu leveza ao texto! Tudo de bom

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